Metamorfose - o meu caminho até ao islão

Antes

Antes de começar a contar sobre a minha mudança inesperada e indesejada quero dizer quem sou e dar uma ideia como foi a minha vida antes da tal mudança.

Sou uma mulher suíça, nada de especial, já com 58 anos. Há quase 20 anos que estou a viver com o meu marido no país dele. Temos dois filhos adultos que já não vivem connosco, um negócio próprio e alguns cães. E posso dizer que felizmente temos uma vida sem grandes preocupações.

A minha atitude geral perante a vida foi marcada por um grave acidente de carro. Contra as previsões dos médicos sobrevivi e ainda por cima escapei por um cabelinho à cadeira de rodas.

Durante a longa estadia num hospital especial para paraplégicos perguntei me, depois das semanas da incerteza e tendo em vista os internados deficientes, porque é que eu tive esta sorte imerecida de ter escapado a esse destino. Fiquei sem resposta mas estes raciocínios fizeram com que comecei a acreditar em destino, duma maneira fatalística. O que tem de ser, é – o que não, não. Isto levou-me a viver com o lema: vive o dia e goza a vida enquanto podes – (enquanto não prejudicas outros). Claro que tive também um sentimento de gratidão pelo facto de ter recebido, assim dito, uma segunda vida, mas não sabia a quem dirigi-la.

Porque desde a minha infância nunca mais acreditei num Deus. Lembro-me de que durante algum tempo – aos meus 12 anos – rezei: Deus, se existires mesmo, faz favor, dá-me um sinal para eu poder acreditar! O meu pedido não foi cumprido. Mais tarde houve as missas obrigatórias e a escola de "confirmação" (era evangélica) – e pus o tema religião de lado.   

A imaginação de um Deus, que criara o universo, parecia-me ainda mais absurda do que a ideia de que tudo existisse por acaso. Imaginei que houvesse outras possibilidades – ainda mais longe da capacidade de imaginação do ser humano. "Acreditar" nunca me parecia o termo adequado como resposta à pergunta pela origem do mundo e pelo sentido da vida. Ou sabia ....  mas então não precisava de acreditar. A palavra "Deus", porém, serve como descrição para tudo aquilo que não sabemos....

A minha opinião a respeito a religiões foi influenciada por estes raciocínios. Não conseguia imaginar que uma pessoa mais ou menos inteligente conseguisse acreditar numa religião. Em Deus – talvez, mas religião? Embora tinha um certo respeito para os fundadores das religiões que – na minha opinião – trouxeram todos a mesma mensagem: sejam bons uns com os outros! Mas desconfiava extremamente das religiões, das igrejas, das hierarquias, dos ritos, dos meios de poder que surgiram dai. Vi as religiões como meio de oprimir, manipular e explorar os povos. Conforme Marx: religião é o ópio para o povo.

Eis o ponto de partida.











A Entrada

Adoro dançar. O meu marido odeia dançar. Esta foi a razão que fez com que, há uns anos, me inscrevi num curso de dança oriental – dança do ventre na voz do povo. No fundo achei aquelas mulheres velhas, que abanavam as banhas, antes um pouco ridículas e preferiria frequentar um curso de Salsa ou de Tango com o meu marido. Mas nunca fui capaz de convencê-lo nestes anos todos, e também não quis dançar com outros homens. Na dança oriental é ideal que não se precisa de parceiro e que – como me disseram – ia fazer bem às minhas costas avariadas desde aquele acidente. E, ao contrário do que pensara, aquilo acabou por não ser nada indecente, nada vergonhoso – fomos apenas umas mulheres bem diferentes, entre as idades de 15 e 75, que adquiriram com esta dança e seu aspecto meditativo uma relação um pouco mais relaxada com os seus corpos imperfeitos e ainda por cima articulações mais elásticos – e que se divertiam imenso.   

Fiquei logo fascinada pela música árabe. Em menos de nada o meu iPod ficou cheio dela. Depois decorei o meu quarto a maneira oriental. Pouco mais tarde realizou-se um velho sonho meu: O meu marido e eu fizemos uma viagem para o Egipto. Foi maravilhoso. É natural que o ponto mais importante da viagem foram os monumentos dos velhos egípcios, mas também passamos uns dias no meio da cidade de Cairo. Visitamos a cidadela acima da cidade com a mesquita Mohammed-Ali, lindíssima e muito imponente. Mas não imponente suficiente que impedisse o meu marido a dizer uma brincadeira ao ver os crentes que estavam a fazer inclinações e prostrações, é que ele diz sempre que ouve “Allah Petrol” em vez de “Allahu Akbar”. Diverti-me com ele.

Um pouco menos do que um ano mais tarde comecei a aprender a língua árabe. Por um impulso espontâneo pedi a uma amiga minha que trouxesse um curso autodidáctico da Suíça. A explicação para mim e para os outros foi que a intenção principal era treinar o meu cérebro, e que estava farta das palavras cruzadas e dos sudokus. Lera nalgum lado que faria bem as células cinzentas se uma pessoa com mais idade começasse a aprender alguma coisa completamente nova. Uns anos atrás já tinha experimentado com russo e chinês, mas não me dei com essas línguas. Ao contrário do árabe: Adorei logo e estudei com ambição.

Depois de uns meses tive a vontade de aprender a sério, num curso. Fiz uma aula de prova num curso na zona mas os meus conhecimentos já adquiridos eram poucos para os avançados e demasiados para os principiantes. Além disso não me apeteceu aprender mais uma transliteração da escrita árabe, depois da alemã. Procurei então na internet e encontrei um professor que ensinava a partir da Alemanha, em alemão, live online. A homepage dele parecia profissional. Hesitei um pouco mas depois inscrevi-me para uma aula de prova, gratuita.

Essa foi óptima. Mesmo assim não desisti por pouco: procurei o nome do professor no Google e encontrei umas publicações sobre a língua árabe mas também um texto religioso, islâmico. E o que menos me apeteceu foram esse tipo de coisas.

Mas como não foi preciso comprometer-me para muito tempo, comecei a tirar uma aula cada quinzena. O professor não disse uma única palavra religiosa. Mas informou-me de que aquele árabe, que vinha a aprender há uns meses, não era bem o árabe clássico, antes uma mistura entre dialectos e árabe clássico, um pouco "reduzido". A minha resposta, bastante brusca, foi: "também não tenho a intenção de ler o alcorão. Por isto, acho que o que estou a aprender é mais que suficiente".

Mas depois de umas lições fiquei mais ambiciosa. Nem por causa do alcorão, valha me deus, mas pensei „já que estudo uma língua, porque não como deve ser. Comecei a aprender o árabe clássico e gostei. Com o tempo até me pareceu que com esta língua tão diferente estava a cheirar num outro tipo de vida. No início achei a língua estranha e interessante mas com o tempo comecei a gostar dela, mesmo com aqueles sons esquisitos que se produzem na garganta. As lições eram profissionais e bem feitas e não tinham nada de religioso.

Porque – apesar do meu fraco para o oriente – o islão de certeza absoluta não fazia parte disto. Mesmo que pensava de mim próprio ser uma pessoa tolerante: esta religião para mim era a mais suspeita de todas, não só pelas notícias sobre actos terroristas, assassinos suicídios ou outras crueldades que se ouviam em relação com o islão, mas também porque a informação geral sobre o islão costuma ser bastante negativa. Na minha opinião, uma religião que ainda hoje em dia apoia violência, oprime as mulheres, discrimina outras religiões e tolera apedrejamentos, uma religião assim para mim era pior do que as piores seitas.

Para o meu aniversário recebi um colar com um amuleto com uma caligrafia árabe. O marido dela lho comprara há muitos anos no Egipto e ela não sabia o significado. Eu também não consegui decifrar, mas aprendi que significa "Allah". Razão para mim deixar de usa-lo....







Allah?

Eu sou uma pessoa que adora a natureza. Não consigo imaginar, viver numa cidade. Nas férias são as paisagens e as belezas da natureza que mais me atraem. E confesso que, apesar da minha relação negativa para com as religiões, tive momentos emocionantes ao observar a natureza, uma certa sensação difusa de gratidão pela vida – sem objecto ao qual a poderia dirigir. Mas o que ia acontecer agora superou estes sentimentos de felicidade por muito.

O que vou contar agora ainda hoje soa louco nos meus próprios ouvidos, estranhíssimo. Mesmo assim vou contá-lo tal e qual como o vivi. Bem, um dia, em miadas de Abril, estive no nosso terraço e olhei pela paisagem verde até o mar. Subitamente, senti uma sensação muito intensa, uma sensação física, e ao mesmo tempo „sabia” da existência de Deus e dentro da minha cabeça algo pensou – ou melhor, a minha cabeça estava cheia de “Allah”. Eu sei que isto soa idiota. Pensei – não, no primeiro momento não pensei nada, senti-me "assaltada". Mais tarde encontrei uma comparação para aquela sensação bonita: o nascimento dos meus filhos – puro amor e admiração e gratidão, ainda mais intenso. Claro que a palavra “Allah” dentro da minha cabeça foi resultado do estudo da língua árabe.  

Eu estava contente com a minha vida naquela altura. Já só dava umas poucas aulas de língua por semana e tinha assim tempo para as outras coisas: a casa, o jardim, os trabalhos administrativos do nosso negócio, a dança, a leitura, os filhos, o piano, os cães – não tinha falta de ocupação. Vivia num sítio lindíssimo numa bela casa, não me faltava nada. Nunca sofrera de alucinações e senti-me psiquicamente saudável.

Bem, tive aquele sentimento extraordinário. Não foi só um “flash” momentâneo, a lembrança da sensação ficou e de vez em quando voltou, mais ou menos intenso. Sobre tudo quando estava fora, na natureza, costumava ter essa sensação da presença de Deus. Intelectualmente não consegui classificar o sucedido.

Como já disse – não tinha interesse nenhum em religiões. Mas sabia alguma coisa sobre a minha – em criança visitara a "escola de domingo" e mais tarde tive a obrigação de frequentar a preparação para a confirmação. Por mero interesse lera a bíblia na minha juventude e nos anos Hippy também se aprendeu alguma coisa sobra o budismo e o hinduísmo. Nenhuma dessas religiões me aliciou alguma vez.

Mas agora comecei a informar-me sobre o islão, primeiro na Wikipedia, um léxico independente na Internet. Já soubera que a palavra "Allah" não era mais nada do que a tradução de “Deus” e que os cristãos árabes também chamavam Deus “Allah”. Também sabia que a maior parte dos muçulmanos eram muito pios e rezavam muito inclinando-se e pondo a testa no chão até ficarem com nódoas pretas. E sabia o que se ouve nos últimos tempos sobre esta religião nos médias. Agora comecei a aprender uma vista bem diferente.

Descarreguei uma tradução do alcorão de Rassoul e encontrei:

«Dize-lhes (mais): Sabei que meu Senhor é Quem atira-vos a verdade e é conhecedor do incognoscível. (Sura 34 versículo 48)

E:

«................, arrepiam-se as peles daqueles que temem seu Senhor;
logo, suas peles e seus corações se apaziguam, ante a recordação de Deus.
 Tal é a orientação de Deus, com a qual encaminha quem Lhe apraz …...
(Sura 39 versículo 23)

Melhor não consigo exprimir a minha sensação no terraço.

O alcorão causou-me aversão e atraiu me ainda mais. A minha cabeça defendeu-se com unhas e dentes. Recordou-me todos os argumentos contra religiões em geral e o islão em especial, justificados e injustificados, preconceitos e factos – tudo o que o meu marido ou os meus amigos ou cada pessoa, que não liga a religiões poderia alegar. Chamei-me parva, tive medo de ficar maluca, estava completamente confusa.

E não podia falar com ninguém. Sabia perfeitamente: todos que conhecia iam dizer precisamente os mesmos argumentos como a minha própria cabeça. E fariam tudo para me desviarem desta “disparate”. Mas eu não queria ouvir a minha própria opinião, mas queria saber alguma coisa do “outro lado”.

Depois de muitas lutas interiores superei a minha vergonha e escrevi um e-mail ao meu professor de árabe. Já não me lembro, qual foi a minha primeira pergunta pois numa tentativa de salvar o meu casamento apaguei mais tarde muitos mails. De toda maneira ele tentou responder às minhas perguntas, sempre cortês e distanciado. Muitas das suas respostas pareciam-me lógicas, outras não, e de vez em quando também veio qualquer coisa como „isto faz parte da sabedoria de Deus".

Mas mesmo assim quis saber mais. Entretanto estava a ler duas diferentes traduções do alcorão, estéreo. Li tudo que encontrei na Internet sobre, contra, para e do islão.

No que respeita a minha reacção ao alcorão posso citar as seguintes palavras do grande escritor alemão Goethe. Acho que nunca um não-muçulmano (sendo isto duvidoso) descreveu tão bem este livro:

»O corpo deste livro santo consiste em tautologias e repetições que nos vão repugnando e atraindo cada vez que nos aproximamos dele, nos assombra e finalmente nos causa veneração […] O estilo do alcorão é, conforme conteúdo e propósito, rigoroso, grande, assustador e por partes altamente sublime – e assim um efeito leva ao outro e ninguém pode surpreender-se pela grande eficácia do livro. «

O que ia aprendendo sobre o islão – a maior parte sempre na Internet – fascinou-me cada vez mais. As coisas iam ficando lógicas – a minha cabeça começou a acompanhar a jogada. Entretanto tinha verificado o efeito das recitações do alcorão – mesmo sem a pessoa perceber uma palavra. No princípio nem liguei muito aos assim chamados "milagres científicas do alcorão" (já constam ai factos científicos que só hoje em dia se descobriu que são verdade e que na altura da revelação altura eram impossíveis saber). O que me impressionou mais foi a linguagem em si, e o facto que não só linguistas islâmicos são convencidos de que nestes 1400 anos desde a sua revelação ninguém conseguiu criar uma sura parecida. (Um desafio do próprio alcorão: que trouxesse, quem não acredita na revelação divina, uma única surata comparável – e a surata mais pequena só tem 3 frases).

Eu – aquela mulher autónoma, aberta, independente, "inteligente" que os outros viam em mim, eu senti-me atraída por uma religião. E ainda por cima precisamente pelo islão!

O meu intelecto avisou me sempre de novo: „Não te metas nisto! Isto contradiz tudo o que tu (não) acreditaste até agora. Islão! Isto é para árabes e fanáticos, para ignorantes e infantis. Ou para sonhadores e malucos. Mas de certeza absoluta NÂO PARA TI.”


Nessa altura da minha desunião interior cresceu esta rosa na minha roseira amarela:

Achei-a interessante e linda, fotografei-a, mostrei-a a toda a gente mas com certeza não a vi em contexto com a minha mudança. Adorei este capricho da natureza.

No entanto, o islão atraiu-me cada vez mais. Nas minhas pesquisas na Internet aprendi, que o alcorão e a religião do islão no fundo não têm nada a ver com violência e terrorismo e desrespeito da mulher. Estas coisas acontecem, sim, e entre muçulmanos em quantidade elevada – por causa duma mistura estranha entre tradição árabe ou, nos países industriais – pelas consequências da desintegração social, em conjunto com fanatismo na religião.  Mas os acontecimentos actuais são a prova de que milhões de muçulmanos preferiam sofrer com os seus governos despóticos em vez de se revoltar, e agora que se defendem, a maioria fá-lo tão pacificamente quanto possível. A grande maioria dos muçulmanos, sem ser os fanáticos extremos de onde surgem os extremistas e terroristas – entendem a sua religião como religião de paz.

Quase inconscientemente comecei a ter diálogos interiores com Deus. Deixei de fumar e reduzi o álcool a um mínimo. Uma vez o professor de árabe escreveu: „Talvez a senhora já é muçulmana sem saber”.



Muçulmana

Continuei a informar-me e com o tempo as palavras "muçulmana" e "Islão" pareciam-me cada vez mais bonitas. E um dia no fim de Junho senti de repente, sem pré-aviso, a vontade interior de dizer a „shahada“, o credo islâmico que faz duma pessoa um muçulmano perante Deus.

A rosa das duas cores tinha murchado há muito. Mas não foi que mesmo agora a roseira fez outra rosa especial: desta vez uma flor completamente vermelha, um pouco mais pequenina, no meio das muitas amarelas. Nesta roseira não crescera e nunca mais cresceu outra coisa do que rosas amarelas…

Entretanto pareceu-me tudo um caminho predestinado:

 v      A dança como “entrada”
 v      as viagens para o oriente
 v      a vontade de aprender a língua árabe
 v      o colar com a caligrafia „Allah“
 v      que o professor era muçulmano
 v      aquela sensação no terraço
 v      o facto de que disse quase automaticamente o    credo

 v      E ainda as duas rosas: um pequeno milagre como "extra"...  (e ainda não foi tudo!)


Claro, pode-se considerar isto tudo como mero acaso, fantasia, alucinações, imaginação e ilusões. Ou então pode-se pensar que – com a ajuda da Internet e um capricho da natureza – fiz uma "auto lavagem ao cérebro”. Raçocionei muito sobre isto. Mas uma coisa é evidente: ninguém me influenciou, ninguém me empurrou, tudo surgiu em mim próprio.  

Já sabia que juntamente com a „Shahada“ (a recitação sincera credo é a primeira atitude necessária para se abraçar o Islão), as cinco orações diárias são um dos pontos mais importantes, um dos assim chamados cinco pilares do islão. Informei-me na internet como se pratica a oração. Decorar textos não é o meu forte. E confesso que nas aulas de árabe gostaria bem disfarçar as minhas dificuldades de leitura com os pequenos textos que deveria aprender a ler, decorando-os, mas com pouco sucesso. Surpreendentemente decorei os textos mais importantes para as orações em menos de nada (alguns textos tem de ser falados em árabe, mas o resto, claro, cada um reza na sua língua materna).  

Comecei então a praticar as orações. Eu – que ainda há poucas semanas me ria sobre “gente beata”. Eu, de natureza preguiçosa, pessoa que gosta de comodidade, eu passei a cumprir as rezas, sempre que possível, 5 vezes ao dia. De vez em quando voltou aquela sensação do terraço com grande intensidade. Mas confesso que também houve momentos em que o meu antigo “eu” estava ao lado de mim e ia morrendo de rir sobre estas inclinações e – como dizia o meu marido – batidas com os cornos no chão, com a cabeça escondida debaixo do lenço.

Cada dia ia aprendendo mais sobra a religião. Encontrei páginas Web extremas, menos extremas, umas missionárias, outras totalmente contra o islão, as vezes mesmo odiosas. Lembro-me que me apanhei uma vez a mim própria – uma mulher independente numa idade avançada – escutando respeitosíssima alguns rapazes desconhecidos com barbas cerradas na YouTube, e achei a situação completamente absurda. Falando em YouTube: reencontrei ali o meu professor de árabe, com umas explicações (tafsir) sobre uma sura. Se tivesse visto isto antes – teria saído imediatamente do programa e teria acabado com as aulas – não só porque não teria gostado do facto de ele ser tão religioso mas também porque não gostei muito do aspecto dele. Mas isto entretanto já não tinha importância.


Eu era agora muçulmana. Até juntei um nome islâmico ao meu nome. Isto não é obrigatório, mas possível. Nem sei muito bem porque é que fiz isto – não pensei muito para dizer a verdade. No princípio das minhas pesquisas objectivas sobre o islão, na Wikipedia, tinha dado com o nome Chadidscha. Era o nome da primeira esposa do Profeta (s.a.s.). Ela fora uma mulher de negócios, independente, de idade avançada quando abraçou o islão. Consegui identificar-me um pouco e gostei também do nome. Quero salientar que este nome é um suplemento, não uma substituição – nunca na vida era capaz de substituir o nome que os meus pais me deram.

Ninguém da minha família ou dos meus amigos sabia da minha "transformação". Eu sabia perfeitamente que ninguém ia compreender – tal como eu próprio não teria compreendido há uns meses atrás, se alguém me contasse uma história dessas. Admito que na primeira fase tive vergonha, não só perante os outros mas perante mim própria… Por isso tive de praticar as orações discretamente. Por um lado senti-me mal por não ter a coragem de dizer o que se passava, mas também receei os efeitos que a verdade poderia originar nos meus familiares. Por isso senti dentro de mim um certo sossego, mas para fora parecia desconcentrada e ausente, pois estava sempre a reflectir sobre como transportar as novidades a minha família e aos amigos.

Chegou o Ramadão. E eu estava com grande vontade de cumprir o jejum. Depois de poucos dias foi impossível fazer isto às escondidas – já ninguém queria acreditar nesta dieta estranha – e fui obrigada a dizer a verdade.

Confirmaram-se os meus medos. Não vou referir em pormenor o que me disseram. O que ouvi levou-me três vezes a tentar a "sair desta", para agradar a minha família e para salvar 33 anos de casamento. Até recomecei a fumar, para provar aos outros e a mim própria que não trocara um vício por outro. Também voltei a ler mais publicações anti-islâmicas do que as positivas.

Na terceira tentativa de "acabar com este disparate" e de salvar o meu casamento apaguei todas as coisas islâmicas do meu computador e do meu iPod e informei o meu professor de árabe que acabava com as aulas e pedi-lhe para não me contactar mais.

Na noite desta tentativa radical de me tornar "normal" deitei-me e – como de costume – pus os auscultadores do meu iPod nos ouvidos. Tinha lá imensas músicas e também muitas canções árabes da dança oriental, em total mais de 400 músicas. Naquela noite liguei „escolha aleatória“. A primeira música foi uma que conhecia da dança. Nunca tinha ligado às letras. Desta vez escutei. Cantava: „inchaAllah Chadidscha que espere, inchaAllah Chadidscha seja feliz“. Repetidamente. Mais nada. Não podia ser. Liguei a luz e verifiquei: sim, a canção chamava-se „Khadidja“ (outra transliteração do mesmo nome). Pronto – mas o resto só podia ser engano, seria alguma coisa em árabe que não percebia. No outro dia pesquisei na internet e descobri que a música é duma banda árabe/brasileira com morada no Brasil....

Mesmo assim obriguei-me a continuar a tentativa de tornar a ser como dantes. Para fora tentei ser “normal”, a pessoa que todos conheciam – e por dentro sentia só tristeza. Depois de poucos dias não consegui mais, o islão foi mais forte e eu desisti de me defender.

Evidentemente nunca deixei de fazer perguntas. Levei as suspeitas dos outros sobre os meus “problemas psíquicos” que levaram à minha “mania religiosa” a sério e tentei ser honesta comigo. Cheguei nas mesmas conclusões: senti-me psiquicamente saudável, as oscilações hormonais da menopausa estavam atrás de mim, nem me senti a beira duma depressão nem sou uma pessoa que se deixa influenciar por algo ou por alguém sem mais nem menos. Se precisasse duma aventura – acho que havia possibilidades menos complicadas…

Além disso: nenhuma pessoa com juízo e ainda fleumática como eu faz o que eu estou a fazer desde aquela última tentativa de voltar atrás, só por uma aventura ou por entusiasmo ou para impressionar alguém: pratico as 5 orações diárias (e não só) inclusive as lavagens rituais precedentes, não me farto de ler o alcorão e outras obras islâmicas. Não me apetece sentar-me num local cheio de fumo e de pessoas que gostam de beber um copo a mais, não bebo álcool nenhum nem como carne de porco. Ah – e aqueles dias, e não foram poucos – que deixei de jejuar no Ramadão: recuperei-os. (E no último dia comprei uma mão-cheia de tâmaras para acabar o jejum da mesma maneira como o Profeta (s.a.s.) costumava fazer e a seguir cozinhei só para mim uma pequena ceia festiva)

Não acho que sou maluca. Porque tenho a minha vida sob controlo, faço o meu trabalho, ensino, encontro-me com amigas. Claro – não posso excluir esta possibilidade a 100%, pois a maior parte dos malucos não acredita que o são. Se for este o caso: deixem-me ficar maluca – eu estou bem assim (enquanto não penso naqueles que estão mal por caso de mim).

Agora todas as minhas amigas mais próximas já sabem. A maior parte reagiu bastante tolerante. Tenho a certeza que no fundo acham um bocado estranho e julgam que estou a exagerar. E sei perfeitamente que para elas é mais fácil ser tolerante do que para a família. Uma delas até disse: „acho que todos – em segredo – gostariam de ter uma experiência como tu tiveste lá no terraço”. No seu livro “Veronika decide morrer” Paulo Coelho chama isto “o momento mágico“ que leva pessoas a mudar de rumo na vida.

Compreendo muito bem as pessoas que estão preocupadas comigo, que têm medo por mim, porque acham que o islão é uma seita perigosa. Pois até há um ano eu pensei igual e teria reagido igualmente negativo e preocupada.


Também me disseram: Talvez tenhamos tantas dificuldades de te compreender porque nós todos conhecemos muitos divórcios porque um dos cônjuges tem um „novo“ ou uma „nova“. Também temos experiências com problemas como o álcool ou drogas, doenças psíquicas e até com cônjuges que passam a ser homossexuais. Mas não sei de ninguém que conhecesse uma mulher que converteu para o islão. Quanto menos de maneira como decorreu contigo – só fazia sentido se “ali estava metido” outro homem.

Pois como é que isto decorreu comigo? Para muçulmanos é claro: fui “levada ao caminho certo”. Eu sei que isto soa completamente doido. Mas também sei que muitos muçulmanos praticantes já tiveram nas suas vidas uma experiência como a minha. E que sabem de que “sensação” de que estou constantemente a falar.

E – um outro, bem, um outro está lá metido – só que não é um homem. Embora o meu estado ás vezes se pareça com uma adolescente apaixonada. Até uma vêz, num belo dia, na praia, apanhei-me escrevendo
 „الله  اكبر

com um pau na areia  „Allahu akbar“...



Sózinha

Estou a viver sozinha agora, para que possa praticar esta religião sem alguém se rir de mim e sem chocar ninguém. O meu marido agora está disposto a tolerar o que estou a fazer. Mas é difícil – para mim porque ele não me compreende de maneira nenhuma e para ele porque eu já não sou bem a mulher de que ele gosta e porque o meu comportamento é estranho. O facto de eu ter ido embora de casa deve confirmar ainda os preconceitos. Pois sabe se por exemplo umas das piores seitas, os „sientólogas“ – proíbem o contacto com as famílias.

Mas eu gosto de conviver com minha gente. Só que se torna desmoralizante se todos tentam – abertamente ou subconscientemente ou talvez por projecção minha – influenciar-me contra o islão. Ou me dão a entender que pensam que tenho um problema psíquico, que preciso de ajuda. Também – peço desculpa – estou ficando farta de me justificar.


Claro – o meu tema preferido é agora esta religião – mas continuo não estar interessada em ouvir a minha própria antiga opinião. Esta ouve-se na televisão ou lê-se nos jornais quase todos os dias, e além disto, bem atrás no meu cérebro, ela ainda existe – e de vez em quando tenta atormentar-me um pouco.

No princípio só consegui falar – ou melhor dito escrever – positivamente sobre este tema com o professor de árabe. Muito paciente e discretamente respondeu às minhas perguntas. Mas os e-mails vinham esporadicamente, e fiquei contente quando mais tarde descobri um Chat online em língua alemã. Só que a gente que mantém este chat – são exclusivamente estudantes das ciências islâmicas e quase todos podiam ser os meus filhos – esta gente encontra se na Arábia Saudita. Deve ser mais ou menos como se alguém convertesse para o cristianismo e fosse buscar conselho nos “amish people”. Mas como estou consciente disto, consigo filtrar as informações. Eles são simpáticos e dão me um pouco de apoio e – o mais importante – respondem imediatamente às minhas perguntas.

A comunidade muçulmana da minha cidade arranjou-me um contacto com uma jovem marroquina. Infelizmente mudou-se entretanto com a familia para Marroques. Oxalá irei visita-la no verão.

Eu ando nadando neste imenso oceano chamado islão, nalgum lado entre os „muçulmanos por nome“ (os que só se chamam mas não praticam nada) e os „ortodoxos“ (os que levam o alcorão e a sunna (o ídolo da vida exemplar do profeta) literalmente e os seguem em todos os pormenores. Não fazia sentido de converter de uma cristã „por documento“ para uma muçulmana „por nome“, mas também não pretendo tornar-ma numa fanática. Estou convicta de que com o tempo encontrarei o meu lugar. Já não ponho em questão a religião em si.

Hoje em dia não compreendo como alguém pode olhar para a natureza e acreditar a sério no princípio do acaso. Ou quando observo por exemplo um objecto produzido por um ser humano acho absurdo como se pode ter a ideia de que o cérebro, que inventou esse objecto, teria surgido por mero acaso….

O Alcorão fala muitas vezes em sinais óbvios:

«E na terra, há sinais para os que estão seguros na fé. (20) E também (os há) em vós mesmos. Não vedes, acaso?» Sura 51, versos 20 e 21

Ou também:

«De pronto lhes mostraremos os Nossos sinais em todas as regiões (da terra), assim como em suas próprias pessoas, até que lhes seja esclarecido que ele (o Alcorão) é a verdade. Acaso não basta teu Senhor, Que é Testemunha de tudo? (53)» Sura  41 verso 53

Acreditando então num plano, numa força criadora, que está atrás de tudo, isto significa que esta é a origem do meu próprio ser, de todo o ser. Não é lógico que manifesto em tão os meus agradecimentos a esta força que gosto mais de chamar Allah do que Deus simplesmente porque esta palavra árabe não tem género nem plural. Que devo gratidão a Allah, e amor?  Que está por cima de todas as outras coisas da vida? E: que Allah pode exigir de mim o que quer? Orações, por exemplo?


Bem. Agora cada pessoa com juízo dirá: ok, está bem, até aqui ainda te consigo compreender. Ninguém tem nada contra tu acreditares em Deus. Mas PORQUE TEM DE SER PRECISAMENTE O ISLÃO?

Talvez, porque os meus „sinais me levaram até ele. Talvez, porque todas as teorias que descrevi aqui surgem da minha ocupação com o Alcorão. Porque tudo o que estou a tentar explicar com muitas dificuldades, já faz parte daquele livro, em várias formas. Porque este livro está cheio de milagres e ficou inalterado desde a sua revelação e foi decorado milhões de vezes desde então. Porque é que não seria possível que Ele, que criou o maior e o mais pequeno, o visível e o invisível, mandasse uma mensagem àquela criação dele a qual ofereceu coisas especiais: a consciência de si próprio e a livre vontade. Um género de “manual” para esta “livre vontade”?

Ou simplesmente porque esta religião me convenceu.



Outra pessoa?


Passei a ser outra pessoa? Uma amiga me fez esta pergunta interessante. No início afirmava sempre: sim, agora tenho uma fé, mas de resto continuo a mesma de sempre!

Mas há uns dias, quando o meu marido me pediu de voltar a casa, disse-lhe: „Aquela, que tu querias que voltasse, já não sou“.

Sim, confesso, algumas coisas mudaram, não é só o cumprimento dos rituais. Estou a ver o mundo com outros olhos. Mesmo que a maneira islâmica de entender o mundo confirmou a minha posição geral para com a vida, com a atitude social e com a política em grandes partes – também há pontos em que mudei a minha opinião. E muitas coisas que costumava achar importantes, já não o são. E tenciono comportar-me da maneira como a reiligão o exige.

Mas isto é bastante difícil e confesso que os meus maus feitios que são – entre outros – a impaciência, desleixo, preguiça, teimosia e querer saber tudo melhor do que outros, não se evaporaram por eu abraçar o islão.

Luto e tento melhorar. Isto já fazia antes, mas desta vez parece-me que consigo registar pequenas melhorias.

Assim, de maneira geral, pode-se dizer: não, já não sou aquela que era, mas também não sou outra pessoa. Sou eu, uma pessoa normal, com boas e más características, com muitos erros, ás vezes estou bem disposta e ás vezes menos bem. E sou muçulmana.

As dúvidas já só se aproximam de mim muito raramente e não têm hipóteses contra esta fé imperturbável dentro de mim. Admito que nos últimos tempos já não me informo objectivamente como no começo. Evito o negativo sobre o islão. De toda maneira é sempre o mesmo. Ainda há pouco tempo, na televisão suíça, Tariq Ramadan, um islamólogo muito debatido* alegou a convicção de que nos dias de hoje está a acontecer o mesmo ao islão como aconteceu antigamente ao judaísmo: „propaganda negativa sistemática está a caracterizar – sobre tudo desde o 11 de Setembro – as publicações nos média e a difamar, à base de uns casos isolados terríveis, uma religião inteira.” Não desminto que há assim chamados muçulmanos que são responsáveis para coisas tremendos no mundo e confirmam assim os preconceitos contra a sua própria fé. Mesmo assim é interessante reparar que, nos relatos sobre casos criminosos, violência doméstica, e repressão de mulheres, a religião só merece menção quando um muçulmano é envolvido. (Só um exemplo: acho que a grande maioria de mulheres oprimidas no sul da América, que têm de trabalhar para sustentar as famílias, que são as únicas que tratam da educação dos filhos e dos trabalhos domésticos – pronto, tem de fazer tudo sozinhas porque os seus maridos que bebem e muitas vezes as batem não fazem nada – estas mulheres são quase todas católicas….)

Àqueles que ainda exigem de mim de “retomar o juízo”, e de me esquecer deste “disparate” tenho que dizer: Não é possível começar a acreditar por força de vontade e também não é possível deixar de acreditar por força de vontade. É que eu não fui ao supermercado e escolhi uma religião e agora posso ir troca-la porque a minha família não gosta dela. Ela – assim o sinto eu – veio ter comigo – sem que a tivesse chamado. Por isso parece-me que terão que esperar até ela se ir embora por si mesmo ....

A minha nova vida não é fácil. Claro, encontrei o caminho até Deus. Estou convencida disto – pois sinto-o. “Arrepiam-se as minhas peles; logo, as minhas peles e meu coração se apaziguam, ante a recordação de Deus.” Adorava poder emprestar esta sensação aos que amo – pois assim eles compreenderiam.

Infelizmente isto é impossível. E por isto estou desconfiada que os meus familiares, amigos e amigos dos amigos me vêem como um pouco doida, psiquicamente não muito saudável ou até completamente maluca. Ou chegaram a conclusão que sou muito menos inteligente do que pensavam. O meu comportamento também não ajuda a eliminar estas opiniões, pois o cumprimento de horário para fazer orações, o facto de que não como carne de porco nem bebo álcool e a separação do meu marido me fazem ainda mais “fundamentalista”. Falta só o lenço. Mas... quem sabe? E como resposta particular a uma das minhas melhores amigas: não, o lenço e também as orações não servem para os muçulmanos se distinguirem ou darem nas vistas, trata-se simplesmente de obediência para com a vontade de Deus.

Confesso que ainda hoje tenho momentos em que me pergunto: para quê estes rituais todos, para quê cumprir estas regras todas. Mas se acredito que a mensagem do alcorão é uma revelação de Deus – e é isto o que faço – não posso só petiscar aquelas coisas que me „entram na cabeça“ e que gosto, mas tenho que aceitar também aquelas coisas cujas “porquês” não compreendo. Pois também não compreendo o „porquê“ da electricidade ser invisível, mas entendo perfeitamente que assim é melhor para nós (imaginem só!)





Ach-Hadu An Lailáha Il Lal Laha
(Presto testemunho de que não há outra divindade além de Allah)

Wa ach-Hadu Ana Mohamadane Abduhu wa Raçuluhu
(Presto testemunho de que Muhammad é servo e mensageiro de Allah)


E quem gosta lê um versículo muito bonito e um outro muito elucidativo do Alcorão:

Deus é a Luz dos céus e da terra. O exemplo da Sua Luz é como o de um nicho em que há uma candeia; esta está num recipiente (de vidro); e este é como uma estrela brilhante, alimentada pelo azeite de uma árvore bendita, a oliveira, que não é do oriente nem do ocidente, cujo azeite brilha, ainda que nem o toque o fogo. É luz sobre luz! Deus conduz até a Sua Luz quem Lhe apraz. Deus dá exemplos aos humanos, e Deus sabe todas as coisas (Alcorão 35:35)


„Não vêem, acaso, os incrédulos, que os céus e a terra eram uma só massa, que desagregamos, e que criamos todos os seres vivos a partir da água? Não crêem ainda?
(Alcorão 21:30)




E para terminar um ditado islâmico:

„O Alcorão é um universo falando e o universo é um alcorão calado.“










*Os muçulmanos ortodoxos consideram-no demasiado reformista – até foi proibido de entrar no Egipto. Os não-muçulmanos consideram-no como fundamentalista – pois também na América houve uma altura em que foi proibido de entrar.




2 comentários:

  1. As salam 'alaikum,
    Muito obrigado por ter partilhado sua experiencia e Espero sinceramente que Allah lhe recompense imenso por tudo o que fez por Ele. A minha conversao foi muito mais simples! Luis Gaspar (Facebook-Portugueses convertidos ao Islao)

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  2. Assalamo aleikom irmã !
    Puxa, amei seu depoimento, emocionante, que história linda ! Claro que todos aqueles acontecimentos foram sinais de Allah Ta'ala para lhe encaminhar, sem dúvida !!! Eu também recebi vários desses sinais, relutei o quanto pude mas o Islam invadiu meu coração completamente, não resisti, graças a Ele. E hoje nem posso mais me imaginar como não muçulmana. Muito obrigada mesmo por partilhar sua linda história !

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